quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O SKATE É A MINHA VIDA

quarta-feira, 29 de outubro de 2014 - by Blog de Cultura Jovem 0

Manobra de Marcio Garrido-  Pista de São Bernardo do Campo

Entramos no universo do skateboard com o objetivo de conhecer melhor esse esporte e o estilo de vida de seus atletas. Sabemos que o skate é originariamente um esporte de rua, que com o seu crescimento conquistou espaços públicos normatizados (pistas), também chamados de “pedaços” por alguns estudiosos que se baseiam na tese proposta por Magnani (Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade-1984), que sugere:

“o espaço intermediário entre o privado (a casa) e o público, onde se desenvolve uma sociabilidade básica, mais ampla que a fundada nos laços familiares, porém mais densa, significativa e estável que as relações formais e individualizadas impostas pela sociedade.”

Para chegarmos bem perto da realidade do dia a dia dos skatistas, fomos a campo, entramos nestes “pedaços” e entrevistamos algumas personalidades, conseguindo informações importantes, com depoimentos reveladores de valores, comportamentos, símbolos, normas. Uma chuva de emoções captadas em suas histórias de vida com este esporte radical.
Beto Radical ( Limpa Trilho)

Beto Radical (o Limpa Trilho), quem entra na Pista de São Bernardo do Campo, as terças feiras, dá de cara com esse brother cercado de crianças e adolescentes. Aos 50 anos de idade e 34 de skate, ele viveu e vive grandes fases deste esporte no Brasil, podendo falar com autoridade sobre o dia a dia de um skatista. Pira só no que ele diz sobre:

- Preconceito: “Hoje em dia a criança que quer fazer skate, ela vai fazer o esporte. Antigamente, qualquer um que andava de skate era um marginal. Nós aqui, skatistas, a gente apanhava quase todo dia, quase todo dia tomava umas borrachadas dos caras [polícia]. Hoje, os pais acompanham os filhos aqui, incentivam a prática do esporte.”
- Exibicionismo: “Todo mundo no skate é exibicionista. Eu sou exibido. A nova geração é pior. Não adianta explicar para a nova geração que algo não pode. Você pode vir com a explicação mais lógica do planeta, mas mesmo assim você não está certo. A cabeça com esta questão humildade diminuiu um pouco mais. Antigamente, a gente era marrudo igual, não éramos diferentes, só que pelo menos a gente admitia. Por exemplo, se você chamar algum moleque para fazer umas fotos de manobras, ele vai correndo. E outra, tem gente que anda e nem sabe por quê. Só percebe adrenalina quem está para o esporte e não para o exibicionismo.
Jovens na Pista de São Bernardo do Campo.
- Atração do jovem: “O que atrai o jovem é uma questão muito interessante. As meninas são atraídas por conta do equilíbrio que o esporte proporciona, tem às vezes um rapazinho arrumadinho, que é no jeito. Elas chamam as amigas e atendem um apelo visual. Já os meninos, pode ter certeza, é mulher. Então o que acontece, esses moleques adoravam dominar o equilíbrio, era até uma falta de respeito falar para eles usarem um capacete, uma luva. Skate grande, de 40 polegadas, era coisa de vovô. Até que as meninas começaram a andar de skate de 40 polegadas, e aí adivinha o que aconteceu?
- SKATE como meio de vida: “Existem dois tipos de skatistas profissionais: o profissional do skate e o skatista profissional. Profissionais de skate como a gente sofre muito, ou a gente tem que trabalhar ligado ao governo ou a gente tem uma marca, que é o meu caso. Nós temos uma grande quantidade de skatistas profissionais no Brasil, porém, uma pequena minoria tem salário fixo mensal, como o Bob Burnquist e Sandro Dias. Quando se fala em skatistas profissionais, logo se pensa em marcas e patrocínios. Isto é um lance muito complexo. Os atletas iniciantes patrocinados, por exemplo, não ganham um dinheiro X por mês e sim produtos, roupas, peças de skate e, na maioria das vezes, vendem e trocam tudo isso para conseguir dinheiro para poder sobreviver.
            - Drogas: “A maioria dos atletas das antigas provaram uma droguinha. Hoje, os garotos que passam pelas nossas mãos são ensinados a não usar, porque no skate você acha que está pronto sem estar, bem novinho. O aprendizado motor, o aprendizado físico é uma coisa, mas tem o psicológico, que corresponde a mais de 60% no skate e é mais importante do que qualquer coisa.”
          
            - A emoção: “Skate é minha vida. Eu fiz engenharia, não me formei e vivi o skate, vivi boardsport. Todo mundo vive um amor incondicional. Eu adoro skate, é uma cultura, eu a adoro, mas eu sou um profissional. E um profissional não pode ter um pensamento fechado, não pode discriminar. Ele tem que receber críticas e receber também os outros esportes relacionados ao dele. Então tudo que tem prancha eu pratico. Essa é a minha emoção, mexer com todos, não só com um".
            
              Do papo para a pista. Tivemos a oportunidade de acompanhar uma etapa do Circuito Paulista de Mountainboard, uma das ramificações do esporte, onde observamos algumas características do comportamento dos atletas e do público que assistia ao evento.
           No início da competição vimos que a platéia que acompanhava o torneio, em sua maioria, não torcia por um atleta especificamente, pois vibrava, gritava e aplaudia todos os participantes durante suas apresentações, com expressões e linguagens próprias que pareciam ensaiadas, como Yeah!, Urrul! e uoou!, inclusive entoando os nomes das manobras feitas, demonstrando conhecimento do esporte.
Enquanto as exibições rolavam, os DJs ritmavam as apresentações com Hip Hop, Rap, Hardcore e Blues, que animavam as disputas e levantavam a galera.
Ao contrário das vestimentas tradicionais da modalidade street skate, que são calças largas com os fundilhos quase até os joelhos, camisetas larguíssimas, bonés grandes e coloridos, no Mountainboard a maioria dos participantes utilizava jeans, bermudas e camisetas normais. No final da competição ficavam todas da mesma cor: marrom dos “rola” na terra.
Dentre os competidores, uma universitária, Laís Morimoto, que arrasou em sua apresentação disputando com homens. Ela é a cara do espaço que as mulheres estão ganhando no mundo dos esportes radicais, quebrando preconceitos e mudando comportamentos como a aceitação masculina e a inclusão feminina, tendo representado o Brasil na Europa em campeonatos.
No final do evento, observamos que o resultado era uma mera conseqüência da disputa, pois o que estava valendo mesmo era a alegria, diversão e a participação de todos os brothers. Que emoção é essa, que gosto é esse? Abaixo seguem três relatos de atletas que tentam nos responder, a começar pelo Assef Ribeiro, atleta de Vinhedo SP:

 
Assef Ribeiro


 “A sensação de estar andando de Mountainboard é semelhante à de outros esportes de prancha que eu pratico: é a sensação de autodesafiar-se, se superar, de reconhecer seus limites, e a diversão também, pois a gente fica satisfeito quando imagina uma manobra, vai lá e acerta.”




Laís Morimoto










Laís Morimoto: “Além de uma atividade física que traz benefícios para o corpo, é uma coisa que faz muito bem para a mente, a adrenalina é muito grande, mesmo os atletas, é como se fosse uma família, as pessoas são muito abertas, todos te recebem muito bem, não só aqui, mas no mundo inteiro.” 




Marcio Garrido








Márcio Garrido: “Meu, não tem como explicar, é só andando para saber mesmo. É um esporte que vale muito a pena e é por isso que está crescendo cada vez mais no Brasil.”







Tirando os pés da tábua e os colocando no chão, observamos que por meio de elementos simbólicos os skatistas expressam um estilo de vida, um comportamento. As manifestações podem ser vistas nas tatuagens, roupas estilizadas e na música, a exemplo de Skate Vibration, da banda Charlie Brown JR.
Quedas, manobras, emoções. Sobrou para essa galera do skate muita criatividade, improviso e talvez o que mais impulsiona tal aventura seja um encontro com o imprevisto, conforme define Pociello (Os desafios da leveza: as práticas corporais em mutação-1995):

“Poder-se-á brincar de sentir medo no ar e no mar, sobre a onda ou sobre o rochedo, nas subidas ou nas descidas, no vazio que beira a catástrofe, de forma a experimentar realmente as sensações excitantes dos sonhos de vôo, ou saborear essa dinâmica mais modesta do salto.”


Quarta feira quem vem tem mais uma “session” neste blog! Participe das nossas próximas manobras!

Hey, não se esqueçam de curtir a nossa fanpage:

Template para Blog

Template para Blog é um website especializado em Templates de Altíssima Qualidade para Blogger / Blogspot totalmente grátis para download e traduzidos para o português para a sua comodidade

0 comentários:

© 2013 Sala 72. WP Theme-junkie converted by BloggerTheme9
Traduzido por: Template para Blog